domingo, 19 de agosto de 2012

Eu não acredito!



Primeiro, esse artigo é sobre o que eu acredito e não sobre o que eu sei. É importante fazer essa distinção, crer e saber são coisas diferentes. De forma prática, antes de partir para o que interessa, vou deixar aqui algumas explicações:

Teísta   - Toda pessoa que acredita na existência de Deus, ou deuses, é uma pessoa teísta.

Ateísta - Toda pessoa que não acredita na existência de Deus, ou deuses, é uma pessoa ateísta.
Gnóstico - Toda pessoa que diz que sabe que Deus, ou deuses, existe ou não.
Agnóstico - Toda pessoa que diz que não sabe se Deus, ou deuses, existem.

Portanto, uma pessoa pode ser um teísta agnóstico, essa pessoa afirma que acredita em Deus, embora não possa provar e ter certeza da existência de Deus. Geralmente, teístas agnósticos também aceitam que não é possível ser provada a existência ou a "não-existência" de Deus, mas mesmo assim eles acreditam.

Um ateísta agnóstico é o cara que afirma que não acredita em Deus, mas não afirma conhecimento sobre a existência de Deus, assim como não afirma que Deus não existe. Normalmente, um ateísta agnóstico diz que não é possível provar a existência ou "não-existência" de Deus e por isso ele não acredita.

O "problema" na minha opinião são essas duas "classificações":

O teísta gnóstico afirma que ele acredita em Deus e sabe que Deus existe! Estas pessoas, geralmente, afirmam que há provas da existência de Deus.

O ateísta gnóstico é o sujeito que afirma que Deus não existe, logo, não acredita em Deus. A afirmação comum de pessoas dessa "classificação" afirmam que há provas da não-existência de Deus.

Eu disse "problema" porque a pessoa que faz a afirmação, tem que provar. Tanto quem afirma que não existe Deus quanto quem afirma que existe Deus, são os responsáveis pela apresentação de evidências e provas da existência ou não de Deus. Então de forma fácil, caso ocorra o diálogo:

-Hey, cara! Eu fui abduzido por alienígenas!
-Cara, na moral, eu não acredito em você.
-Então prova que eu não fui abduzido!

Não é assim que funciona. O trabalho de provar que ele foi abduzido é de quem afirmou que foi. Quando alguém faz isso, pede prova a quem não acreditou na afirmação, essa pessoa está invertendo o ônus da prova. Ou seja, você não tem que provar para o cara que ele não foi abduzido, ele tem que provar pra você que ele foi.

Pronto, isso explicado, vamos ao que interessa: eu sou um ateísta agnóstico.


Eu considero a religião um aspecto puramente cultural que não tem a menor ligação com a verdade. Religiões oferecem respostas fáceis a questões que a ciência não explicou por completo ou não explicou de forma alguma. Essas respostas oferecem conforto a pessoas e muitos se agarram a elas. Só que, pra mim, essas respostas não tem nenhuma ligação com explicações verdadeiras. Por exemplo, quando um ente querido falece, é um conforto muito grande pensar que ele vai para um lugar melhor, para o Céu, Paraíso, e vai viver eternamente sem dores, sem preocupações e olhando por nós. Bem mais confortável que aceitar que quando a gente morre, a única coisa que a gente sabe que acontece é que nós, no final das contas, viramos adubo. Não é bonito e nem legal, mas isso é fato. 

Para eu aceitar a explicação confortável da religião, eu preciso de algumas coisas: evidências e provas da existência de Deus, do Céu ou Paraíso e da alma ou espírito. 

Tem uma frase minha ali que eu preciso explicar. Quando eu digo que religião é um aspecto puramente cultural, eu quero dizer que você acredita no Deus cristão porque você nasceu aqui. Eu acredito que se você tivesse nascido no Nepal, você provavelmente acreditaria nesse cara aqui:


Krishna, segundo o Bhagavata Purana, que traduzido do sânscrito significa "o livro de Deus", é o Deus Supremo, Deus dos deuses. Krishna nasceu sem uma união sexual. O pai dele, Vasudeva, engravidou a mãe dele, Devaki, por meditação e projeção mental ióguica. 

O rei Kamsa ouviu uma profecia que o oitavo filho de Devaki e Vasudeva o mataria, sendo assim, ele ordenou a morte de Devaki. Vasudeva implorou pela vida de Devaki, então Kamsa mandou prender a mulher na prisão do castelo e mandava matar cada filho dela que nascia, mesmo sabendo que a profecia se cumpriria somente no oitavo filho. Um sábio chamado Narada Muni alertou Kamsa que Vishnu nasceria na família de Vasudeva e que em outra vida, Kamsa fora um demônio chamado Kalanemi e fora morto por Vishnu. Com medo do nascimento de Vishnu em qualquer família do reino, manda matar todos os meninos com até dois anos de idade, para que a profecia não se realizasse.

E no meio disso tudo nasce o oitavo filho de Devaki, Bhagavan Sri Krishna, e como ele corria risco de morte na prisão, a mãe dele o entrega para os pais adotivos dele, Yashoda e Nanda.

Krishna é considerado a forma original de Deus, um ser eterno do qual todas as divindades emanam. Ele adotou uma forma humana temporária pra agraciar seus seguidores e aniquilar demônios.

Heresia? Besteira? Para a nossa sociedade isso tudo é só um conto curioso. Agora, se você tivesse nascido no Nepal, você provavelmente acreditaria nisso.


Imagino que meu argumento relacionado ao aspecto cultural da crença em deuses ficou claro o suficiente. E eu não acredito em Vishnu, esse cara aí em cima, também. 

Questões como "da onde viemos?" e "o que acontece quando a gente morre?" também tem explicações na ciência e na religião. Veja bem, é importante que a gente estabeleça que "se a ciência não explica, então Deus fez" não é um argumento, isso caracteriza a falácia do apelo a ignorância. Sem contar que se a gente levar em consideração que as únicas duas possibilidades de explicação para essas questões são a ciência ou o cristianismo, nós caímos na chamada falsa dicotomia, visto que não existem só essas duas explicações pra essas questões.

Da onde viemos? Eu não sei. Eu acredito que a Teoria do Big Bang, como uma teoria cosmológica para o desenvolvimento inicial do universo, oferece a melhor resposta a essa pergunta. Relacionado a questão do ser-humano, eu acredito que a Síntese Evolutiva Moderna explica suficientemente bem o processo que levou ao aparecimento da vida. As duas teorias são bem grandes pra eu explicar aqui, então, por favor, se você pensou em "a gente veio do nada?" e "então a gente evoluiu do macaco?", clique nos links e leia sobre as teorias, no final do texto ou vou disponibilizar mais um link muito útil que merece ser lido.

O que a gente acontece quando a gente morre? Eu acredito que o processo natural da vida chega ao final, nós paramos de "funcionar" e nós somos enterrados, decompomos e viramos adubo. Além do conforto, eu não vejo nenhum motivo para acreditar que qualquer coisa além disso aconteça. E tem mais, eu acredito, de verdade, que não há como provar a existência de um Céu, Paraíso ou do Inferno.


A religião surgiu como uma forma de explicar as coisas que os homens não entendiam. Os fenômenos naturais que eram atribuídos a Zeus, como os raios e trovões, hoje tem explicação científica e não há mais a necessidade de apelar a Zeus para explicar isso. O que a gente chama de Mitologia Grega já foi uma religião e era considerado verdade para eles. Se brincar, se a gente procurar bem, nós conseguimos achar pelo menos uma pessoa que ainda acredita nos Deuses do Olimpo. 

Com o avanço científico e a explicação de várias coisas naturais, tais crenças se tornaram obsoletas e foram deixadas para trás. Hoje nós estudamos a Mitologia Grega em aulas de História e vemos a importância que ela teve para o surgimento da Filosofia, por exemplo. 

Aqui cabe colocar dois argumentos que eu já escutei a favor da existência do Deus cristão, o primeiro é "Deus existe porque assim diz a Bíblia Sagrada" e "Os locais que a Bíblia descreve realmente existem, portanto Deus existe".

O primeiro e o segundo, pra mim, são refutados com o seguinte: "A Odisseia e a Ilíada dizem que Zeus, Hera, Afrodite, Apolo e Poseidon existem. A Grécia está lá, até Troia, que era considerada um mito, foi encontrada, isso prova a existência desses deuses?"

Apelar a Bíblia não é um argumento. Funciona assim: Deus existe porque está escrito na Bíblia e a Bíblia é a palavra de Deus. OK? Então o Rorschach existe porque está escrito no Diário do Rorschach que é o relato das experiências do Rorschac, escrito pelo Rorschach.

Por mais que doa a muita gente ler isso, a Bíblia é só um livro e não é porque está escrito lá que é verdade. Dá pra citar uma infinidade de coisas que seguem a mesma linha, tipo Ents que tem no Senhor dos Anéis. "Mas a Bíblia é a palavra de Deus", e de novo a gente entra na questão do "prove", e ai a gente cai, de novo, naquele argumento ali em cima. Sem contar que é sabido que existem livros retirados da Bíblia e que textos foram modificados.


"Se eu acreditar em Deus, então ele existe". Não é assim que funciona. Eu posso acreditar que a minha cadelinha poodle vai evoluir para uma Mightyena no nível 18, mas isso não transforma ela em um pokémon. Eu posso acreditar que eu tenho super poderes e consigo voar, isso não me dá a habilidade de voo. Você pode acreditar que é um milionário e isso, infelizmente, não multiplica as cifras na sua conta bancária. Então acreditar não prova nada.

Você se convencer de algo e acreditar naquilo não torna algo mais ou menos real do que é, você pode acreditar no que você quiser, e eu falo sério, todo mundo tem o direito de acreditar no que quiser, mas isso não significa que suas crenças são verdades! "São verdade pra mim". Isso não significa nada. Minha crença em pokémons não transforma um pardal em Pidgeotto. 

"Mas você acredita na ciência igual eu acredito em Deus". A ciência é uma ferramenta utilizada para explicar fenômenos naturais e oferece a possibilidade de qualquer um comprovar as teorias científicas. Um exemplo fácil: pega uma caneta, levanta, solta. A caneta caiu, certo? Isso é a gravidade, facilmente demonstrável e verificável. Então eu não tenho fé na ciência. A ciência demonstra de forma clara para todos que ela funciona e quando não funciona ela vai atrás de outra explicação. 

"Você acredita no Big Bang, você estava lá pra comprovar?". Não, não estava. Você participou da crucificação de Cristo? Imagino que a resposta seja "não". 


A humanidade cria deuses desde sempre. Não tem como todo mundo estar certo, mas tem como todos estarem errados. Eu não vejo nenhum motivo para acreditar em Deus que seja melhor ou mais convincente que qualquer motivo pra se acreditar em Odin. E Odin não vai me mandar pro Inferno!

Eu abordei certos pontos que eu considero mais críticos, o texto acabou ficando bem grande, mas é um assunto delicado, portanto requer uma elaboração maior. Caso tenha a necessidade de eu explicar algum outro ponto que não ficou claro aqui ou eu esqueci de mencionar, eu farei uma "parte 2". Aqui vai o link que eu prometi mais cedo: http://talkorigins.org/origins/faqs.html.

Então, no que você acredita? Porque você acredita? Poste suas ideias nos comentários!

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