quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Livros Marcantes


Eu fui marcado numa corrente de Facebook que pede para que eu escrevo algo sobre 10 livros que me marcaram. Eu geralmente não participo de corrente nenhuma simplesmente porque eu sou babaca, mas nesse caso, abrirei uma exceção. Encaro essa corrente como um certo incentivo a leitura e por ter um viés cultural, achei bacana continuar a brincadeira.

Mantendo a tradição da "sinceridade a todo custo", eu fiquei preocupado quando vi qual era minha tarefa. Eu gosto de ler, mas eu leio em uma situação muito específica: quando eu estou esperando alguém ou algo. Ler me dá muito sono, eu não tenho a habilidade de ler em casa, por puro prazer, e ficar acordado. Me falta esse gene. Por causa disso, eu leio somente quando eu TENHO que ficar acordado. Então, digamos, que eu estou esperando para começar um filme, esse tempo eu passo lendo, aí eu não durmo. Consequentemente, eu não leio tanto quanto deveria ou gostaria, eu demoro vários meses para terminar um livro, e muitas vezes nem é um livro grande, acabo deixando livros pela metade vez ou outra também. 

Outra coisa que faz com que eu prefira outra forma de entretenimento à livros é que eu me envolvo muito mais com um jogo. Então se eu tiver a opção: livro x Xbox, eu vou jogar. Acho que por participar "diretamente" da história, mesmo em jogos lineares, eu sinto "melhor" o jogo, as coisas me impactam de forma mais profunda e não é raro eu rever conceitos após completar uma aventura eletrônica. Considero a série Mass Effect como uma das coisas mais geniais que eu já joguei, já refiz o jogo sei lá quantas vezes e eu ainda me espanto como, mesmo jogando descompromissado, certas escolhas me causam um desconforto moral gigantesco. Não é fácil fazer uma escolha que inevitavelmente exterminará uma raça inteira da galáxia. Talvez eu possa elaborar mais sobre a minha relação com os jogos num outro dia.

Por esses dois motivos - me dá sono e eu prefiro jogar - eu achei que tinha acabado de entrar numa fria quando vi que deveria escolher 10 livros marcantes, a primeira preocupação foi "putz, será que eu lembro de 10 livros?!" e depois de ter lembrado deles, escolher o que é mais marcante que o que e o motivo. Fatalmente algum livro ficará de fora e felizmente eles não tem sentimentos para serem feridos. Títulos como "Falcão Negro em Perigo", de Mark Bowden, e "Não Há Dia Fácil", de Mark Owen, não entram nos livros mais marcantes porque, embora eu tenha lido ambos mais de três vezes, eu não acho que eles mudaram minha vida, acrescentam algo, lógico, mas não foram "revolucionários". Eu considero "Falcão Negro em Perigo" um relato de guerra fantástico e acho a leitura de "Não Há Dia Fácil" muito tranquila.

Enfim, eu não vou colocar muitas informações relacionadas aos livros, mesmo porque são 10, então ficaria algo muito grande e cansativo para as pessoas lerem.

Movin' on


O Poderoso Chefão - Mario Puzo

De todos os motivos do mundo que alguém poderia ter para esse ser um dos livros da lista, o meu é provavelmente o mais inusitado: ele está aqui porque é pior que a adaptação cinematográfica. Eu considero isso um feito e tanto! É muito complicado achar um filme melhor que o livro em que é baseado. Não creio que seja demérito do Mario Puzo, mas sim uma capacidade descomunal do senhor Francis Ford Coppola.

O livro começa legal e vai ficando muito bom, aumenta o ritmo, fica interessante, chega no meio e fica um saco, eu me forcei ler até o final. E foi arrastado, eu devo ter terminado dois livros antes de terminar O Poderoso Chefão.

Então, por ser pior do que um "subproduto", eu o considero algo marcante.


Memórias de um Sargento de Milícias - Manuel Antônio de Almeida

Porque esse livro é CHATO PRA CARALHO.

...

O que? Tem que falar mais alguma coisa? OK, então, sentem-se, crianças, está na hora das "Histórias da Minha Vida!"

Formatura da Oitava Série, tudo o que você puder imaginar dando errado e entrando no Ensino Médio. O colégio que eu estudei deu um livro para cada formando, os títulos variavam, imagino que isso era uma atitude para incentivar a leitura. Aaaah se eles soubessem o tamanho do erro...

Aí eu ganhei esse gracioso exemplar de literatura brasileira. Li. Nunca mais li outro Clássico. E aqui cabe um momento de sabedoria: você que por ventura está lendo isto e está no colégio ainda, não cometa o meu erro. Tenho a certeza de que perdi a oportunidade de absorver muito conhecimento e poderia ser uma pessoa com um volume muito maior de cultura erudita hoje em dia. Eu passei de Literatura no Ensino Médio inteiro através do "jeitinho brasileiro" que eu tanto critico e tenho aversão. No 1º Ano eu passei porque eu prestava atenção na professora que era bonita - aaaaaaai seu porco machista objetificador de mulheres!. No 2º Ano eu passei ganhando nota com um teatro, era fazer a peça ou estudar os clássicos. Fiz um papel de menos de 5 minutos e passei de ano. No 3º Ano eu passei na base da pesquisa de resumos e reviews. 

Ou seja: depois de Memórias de um Sargento de Milícias, eu NUNCA MAIS li um Clássico da literatura brasileira, criei um bloqueio gigantesco com esse tipo de livro e perdi por completo o interesse neles e na matéria de Literatura no todo.

E para fechar os livros que marcaram de forma inesperada, o próximo é....!


Harry Potter e a Pedra Filosofal - J. K. Rowling

Não precisava de nenhuma identificação, certo? Na época todo mundo estava lendo Harry Potter, até minha mãe. Aí o livro estava lá e eu pensei "porque não?" e fui ler. Eis um livro que me marcou pelo fato de eu nem ter terminado de ler.

Harry Potter marcou toda uma geração. Pessoas cresceram junto com o personagem e viam vários de suas dificuldades, dúvidas, problemas, situações e coisas assim refletidas no livro e se espelhavam em algum personagem. Nomes como Voldemort, Hermione, Rony, Snape e Dumbledore fazem parte de um "senso comum" hoje em dia, muito devido aos filmes também. E esses sim, eu acompanhei, e mesmo assim com muito menos entusiasmo com a maioria.

Eu não li nenhum dos outros livros da série, nem tentei, isso me separa de uma boa parte da minha geração, ainda mais considerando o perfil dos grupos sociais aos quais eu pertenço.

E agora, partindo para livros com bons motivos!


O Alquimista - Paulo Coelho

E depois de ler O Alquimista, nunca mais li outro auto-ajuda. Tcharaaaam!

Mas sabe qual é a merda? Um dos motivos de eu não ter terminado Harry Potter, é que na época eu estava lendo este livro e achei muito mais interessante que HP, ainda mais porque eu era muito preguiçoso e descobri que eu teria que ler um cagalhão de livros para descobrir o final, enquanto esse aqui era um só.

E na época eu achei um livro muito bom. Li mais de uma vez também. Antes dele, nós alunos da Oitava Série na época fomos forçados a fazer um trabalho sobre "Quem Mexeu no Meu Queijo?". Então era esse o outro auto-ajuda que eu conhecia. O Alquimista foi uma melhora, do meu ponto de vista, e foi o último do gênero que eu li também.

Me considero uma pessoa melhor por isso.


Azincourt - Bernard Cornwell

Guerra do Cem Anos, Inglaterra x França! Arqueiros! Guerra! Excelente! Eu chegava mais cedo nos lugares para ter que esperar mesmo e ter tempo para ler este livro. Já li mais de quatro vezes e faço questão de não lembrar direito do que está lá, para ter desculpa para ler de novo.

Foi meu primeiro contato com os escritos de Bernard Cornwell e eu gostei muito do estilo. Recomendo fortemente. A ação é intensa e a descrição dos cenários é suficiente para entendermos o que está acontecendo, sem todas as 50 páginas de descrição desnecessária do Dan Brown, por exemplo. Dan Brown é um saco.

E além de tudo, tem um romance que não é mela-cueca. O cara põe um romance no meio do meu livro e não me incomoda com isso. O senhor Cornwell merece vários elogios. 


Serial Killers: Made in brasil - Ilana Casoy

Esse livro me causou transtornos psicológicos sérios na época, eu parei de ter pesadelos com ele só depois de muito tempo e por um motivo muito simples: fotos.

Eu odeio fotos.

E este tem um monte. O livro nos conta a história de um seleto grupo de serial killers brasileiros como o Vampiro do Niterói, Índio do Brasil, Maníaco do Parque é o Chico Picadinho. Até aí tudo bem, até aqui tudo certo. Tem o que eles fizeram, como eles fizeram e depois tem entrevista com eles. Tudo com muito detalhe, é um livro muito gráfico, mas você ler que o cara esquartejou a mulher é uma coisa, agora quando tem a foto da mulher esquartejada, a situação muda.

E lá tem mulher esquartejada, criança morta, mulher amarrada e assassinada, baldes com órgãos... e isso é o que eu me lembro. Infelizmente eu me lembro. O impacto destas fotos foi gigantesco. Em retrospecto, eu acredito que não deveria ter encostado nesse livro com 12 anos de idade.


Elite da Tropa - Luiz Eduardo Soares/André Batista/Rodrigo Pimentel

Foi o livro que eu li mais rápido na minha vida. Esse eu peguei para ler em casa, sentado na cama, querendo dormir e só soltei quando ele acabou. Não consegui mais repetir o feito. 

Eu não sei explicar exatamente "coé" a desse livro, mas é muito bom, foi o primeiro livro sobre a polícia que eu li também. Eu li antes de virar filme, antes de inverterem o título.


Sangue Azul: Morte e Corrupção na PM do Rio - Leonardo Gudel

Esse é brutal. O livro é escrito de forma crua, expõe uma realidade violenta, nojenta, revoltante mas que, no entanto, fez com que eu compreendesse o lado do autor.

"Pra mim, quem ajuda bandido é cúmplice" - Capitão Nascimento

E eu concordo. Aqui neste livro o cara mata, rouba, espanca e tortura por dinheiro e mesmo assim eu "simpatizei" com o cara, pelo contexto. O cara expõe uma realidade tão f*dida que, sei lá, eu não conseguia ficar com raiva dele pelas coisas que ele fez. Tudo é exposto da forma mais impactante possível, impressionante! A escrita possui uma "carga gráfica" gigante, detalha de maneira tal que não é necessária muita imaginação para visualizar o que aconteceu ali. Recomendo, mas requer estômago.


Musashi - Eiji Yoshikawa

Musashi tem dois pontos importantes: primeiro que É um romance, romance mesmo, com amor, encontro e desencontro, suspiros e tudo mais, segundo que a escrita, a narrativa oriental, é MUITO diferente do que eu estou acostumado. Não é tão importante assim, mas é relevante: esse livro é grande pra caralho, umas mil paginas.

Por mais de uma vez o autor passa cerca de 80 páginas criando o clima para um duelo, aumenta a sua expectativa pelo o encontro entre duas pessoas e aí... e aí... E AÍ... aí ele não descreve o encontro! O cara fica 80 páginas falando das técnicas de personagem X e da habilidade de personagem Y e na hora da luta, ele muda o foco, vai falar de personagem B. Terminada a história de B, ele volta para X falando "(...)e após o duelo com Y, X seguiu seu caminho" e a gente não sabe o que aconteceu naquele duelo que a gente esperou tanto tempo!

Sem contar o desespero que dá em certas partes, devido a essa característica da obra, porque muitas vezes, quando começa a ficar legal, já começa o sentimento "po, mas ele não vai falar o que vai acontecer". 

Muito bom!


Moko or Maori Tattoing - Horatio Gordon Robley 

Este é um livro etnográfico, onde o autor descreve os métodos e os significados da tatuagem da etnia Maori, nativos da Nova Zelândia. O livro é absolutamente fantástico no que diz respeito a valor cultural, estão descritos diferentes padrões de tatuagem, o contexto em que era usada, os valores culturais e o melhor de tudo é que não fica preso só nisso, ele também conta a história dos Maori até então (este livro é de 1896). 

Este livro me marcou pelo contexto em que eu o li: consegui terminar de ler inteiro enquanto eu estava na seção da minha tatuagem Maori. Muito apropriado.

Ver como os designs originais se modificaram com o tempo e com a influência de outras sociedades foi algo muito bacana e ainda criou um questionamento interessante: os Maoris são na Nova Zelândia o que os Tupi Guarani deveriam ser aqui. São os nativos. No entanto, eu tenho uma parte do meu coberto com uma arte de origem Maori enquanto os nativos brasileiros estão em cada vez mais problemas. Me pareceu muito injusto o tratamento diferenciado que temos com as culturas nativas estrangeiras. Talvez a gente devesse valorizar mais a cultura indígena nacional, mas isso é para outra discussão.

Enfim, por ter feito parte de outro momento muito marcante da minha vida, esse achado é um dos livros mais significativos para mim.


A Arte da Guerra vai ficar como menção honrosa, assim como Minha Arma Não Perdoa, de Mickey Spillane, Op Center, de Tom Clancy, os já mencionados Falcão Negro em Perigo, de Mark Bowden, Não Há Dia Fácil, de Mark Owen e o excelente 1984, de George Orwell.

Então é isso aí! Eu não vou passar a corrente para frente da forma que me foi requisitada, eu gostaria que quem se sentisse a vontade fizesse a lista, a título de curiosidade.

E só pra não dizer que eu não falei de religião... brincadeira.

HA-HA!