sábado, 8 de setembro de 2012

Até que ponto devemos respeitar a cultura?


Vamos brincar de pensar hoje. Trabalharemos com dois questionamentos distintos nesse texto: o primeiro, que dá nome a postagem, até que ponto devemos respeitar alguma ação pelo motivo de ser um aspecto cultural e o segundo é se alguém de uma cultura externa a analisada pode interferir diretamente na cultura do outro.

Um conceito antropológico conhecido como relativismo cultural diz que não se deve julgar uma cultural sem antes entender aquela cultura. Numa frase bem "meh", seria assim: "você não pode julgar um porco enquanto você não chafurdar na lama com ele". Conceitos relacionados a bem e mal, justo e injusto e etc. variam de cultura para cultura, portanto é prejudicial você julgar uma cultura diferente da sua usando as "lentes" da sua cultura. Acho que qualquer explicação além disso é ficar andando em círculos, todo mundo entendeu, não?

Uma coisa que atrapalha esse processo da análise de uma cultura estranha a sua (para todos os efeitos, a palavra estranha nesse texto quer dizer diferente) é que o ser humano tende a ser etnocêntrico. "Ui, cheio de termos técnicos e palavras bonitinhas hoje... bixa!". Pois é, mas não tem como fugir disso. Ser etnocêntrico significa julgar a sua cultura superior a cultura de todos os outros, julgar-se superior a pessoas estranhas. A Europa passou um bom tempo praticando isso. 

E não encha meu saco porque eu usei a Wikipédia para textos relacionados a conceitos!

Geralmente as consequências de atitudes de pessoas etnocêntricas, em contato com uma cultura estranha, é a modificação daquela cultura estranha. Tipo a evangelização de nativos. Essa modificação de culturas é geralmente condenada pelas estudiosos da área.

Para trabalhar essas questões, eu vou expor alguns casos relacionados a cultura:


Em algumas tribos africanas, parte da Ásia e em parte da península arábica, ocorre a chamada mutilação genital feminina. Bem, como o nome é muito complexo, darei uma explicação para o que acontece: as mulheres dessas tribos tem o clitóris removido cirurgicamente, extinguindo completamente o prazer sexual dessas mulheres. Por vezes também ocorre a remoção dos lábios vaginais ou eles são costurados. 

Em algumas das tribos onde isso acontece, as meninas não são consideradas mulheres e prontas para o casamento até passar pela cirurgia. Os motivos são variados, como estético, a crença de que isso manterá a castidade da mulher, assegurar a virgindade da moça, alguns acreditam que o contato do bebê com o clitóris, no parto, é fatal para o recém-nascido.

Importante: esse costume não tem motivações religiosas. Essa prática já foi, mais de uma vez, relacionada ao islamismo, mas não é verdade.

O problema é que quem se manifesta contrário a prática é considerado um traidor, por assim dizer. Essa pessoa envergonha os acentrais dela. A mulher que não passa pela MGF e se opõe a prática é tratada como prostituta. Evidente que se a moça se recusar a passar pelo procedimento, ela é excluída da sociedade.


Crianças na África estão sendo acusadas de bruxaria. As consequências são várias, como estupro, espancamento, ingestão de ácido, abandono, enforcamento, mutilação de membros e órgãos, tortura e, como não podia faltar, morte. 

Não é a primeira vez que morre gente por causa disso, não é Igreja Católica? Enfim, a bruxaria é considerada real e faz parte da cultura da etnia bantu, representados em maior número na Angola. A teoria deles é que bruxos adultos enfeitiçam as crianças, principalmente dando comida, e depois cobram um favor por tê-las ajudado, geralmente esse favor é a morte de alguém da família.

Tudo o que é feito com a criança é com a intenção de libertá-la do controle do bruxo ou do demônio que a possuiu. Se a criança tem "visões infernais", destrua os olhos dela. Se não der certo, a criança é morta para salvar a família.

No ano 2000, em Angola, foram contabilizadas 432 crianças que sofreram com abusos relacionados a crença de bruxaria.


Mudando de continente! A Ku Klux Klan é a junção de várias organizações racistas estado-unidenses. A KKK se baseia em um conceito chamado de WASP, em inglês: White, Anglo-Saxon and Protestant. Ou seja, branco, anglo-saxão e protestante.

Aí, Igreja Católica, vocês não são os únicos cristãos com esqueletos no armário!

A KKK foi criada no Tennessee e tem o objetivo de manter os valores culturais anteriores a Guerra Civil Americana. Valores esses que são, entre outros, a não integração dos negros a sociedade, a impossibilidade de um negro de ter posses, principalmente terra, contra os direitos civis, inclusive o voto, dos negros.

Mais tarde, em 1915, um grupo mais radical do Klan expandiu a revolta a judeus, asiáticos, católicos e imigrantes. Esse grupo começou a atacar várias pessoas e rapidamente ganhou atenção internacional, devido a violência utilizada. Chegou a possuir cerca de 4 milhões de membros, inclusive políticos.

Mas, hey! Antes um bando de fanático religioso terrorista no poder do que um estado laico!

A KKK hoje em dia é bem menor, com cerca de 3 mil associados, principalmente no Texas, mas possui apoio de muita gente que não é associada.


Achou que o Brasil ia ficar fora dessa, né? Ha! Como se eu fosse deixar o funk carioca fora de uma lista dessas! Mas serei profissional, vamos lá...

Funk carioca todo mundo sabe o que é: o funk carioca (tem que diferenciar do funk original, sério, isso é muito importante) faz parte da cultura das favelas, principalmente do Rio de Janeiro, na onde surgiu. O funk carioca é visto como uma manifestação cultural legítima de um povo oprimido, que tem na música e na dança a forma de manifestar o cotidiano sofrido desse povo. As letras geralmente refletem a realidade da classe pobre favelada, incluindo referências ao tráfico, crime organizado, armas, drogas e sexo.

Eu não vou colocar um vídeo aqui, procura no Youtube com a sua conta em risco, se você não conhece.

Fato: não é, nem de longe, tão grave quanto os outros exemplos, no entanto, a degradação da imagem da mulher é uma constante nesse meio. Várias vezes tratadas como "cachorras", a cultura do funk carioca estabelece padrão de beleza (bunda grande, por exemplo) e certos comportamentos provocativos, visto que a maioria dos "passos de dança" simulam atos sexuais.

Eu não estou dizendo que toda mulher que escuta funk carioca é puta, entendeu? 

A última vez que eu falei mal de funk carioca, a moça que conversava comigo me chamou de "porco fascista" e disse que eu não posso julgar um funkeiro ou quem curte o som e a dança e se inclui nessa cultura, por isso que eu coloquei o exemplo, porque serve para os questionamentos propostos.


Em algumas regiões da China, existe uma tradição entre as mulheres conhecida como "pé de lótus". O costume é muito, muito antigo, de 960 aC, mais ou menos. A explicação pra essa modificação extrema do corpo feminino é a seguinte: o tamanho normal dos pés femininos eram considerados estranhos e a beleza e a virtude da mulher estava ligada ao tamanho do pé, que tinham que se assemelhar a uma pequena flor de lótus.

Quando a menininha completava três anos, ataduras eram postas nos pés e depois os quatro dedos menores eram dobrados em direção a sola do pé, quebrando vários ossos no caminho, até o calcanhar caber no sapatinho. Quando feito com sucesso, o pé fica com cerca de 7 centímetros de comprimento.O processo é extremamente dolorido (oh!) e torturante, mas a mulher que não o fizer, não arranja um marido.

Por incrível que pareça, esses pés são considerados incrivelmente atraente para certos indivíduos!

A prática foi proibida com a ocidentalização da cultura chinesa, mas persiste em certos vilarejos.


A França proibiu o uso das burcas, o que vai diretamente contra um costume muçulmano. A mulher que usar a burca em público pode ser multada em 150 euros.

O meu posicionamento é o seguinte:

Os casos ocorridos na África são terríveis e deveriam ser combatidos. Para mim, o fato de ser cultural não faz diferença e as mulheres e as crianças deveriam ser protegidas. As crianças não deveriam sofrer por causa de superstição. É revoltante o que acontece com as mulheres, principalmente porque se a gente analisar os motivos do porque fazem isso com elas, é tudo resultado de ignorância. Então, nos casos da África eu sou a favor de intervenção internacional, independente da cultura deles.

A Ku Klux Klan já é considerada uma organização terrorista e deveria continuar assim. As ações deles também são fundamentadas em cultura e mesmo assim eu acho que deveria ser combatido, assim como já é feito. Eles tem o direito, sim, de falar o que eles quiserem, assim como todo mundo tem. Então fica assim: eu acho que eles tem o direito de dizer o que quiser por causa da liberdade de expressão, no entanto eu acho que essa postura estúpida deles deve ser combatida fortemente.

O que me deixa bravo no caso do funk carioca é que toda vez que eu digo que eu não gosto, tem alguém para me chamar de preconceituoso. Olha só, eu não sou obrigado a gostar de nada. Você quer escutar funk? Escuta. E não enche o meu saco quanto eu te tratar assim, beleza? Mesma coisa da KKK, quem quer escutar, "cantar", "dançar" funk, tem todo o direito. Fale a besteira que você quiser, no ritmo que você quiser. Para mim, nada está acima de críticas, não é porque é uma manifestação cultural da favela que eu vou poupar de comentários.

Os "pés de lótus", para mim, é parecido com o que ocorre com as mulheres de tribos africanas e também deveria ser combatido.

No geral, eu acho que ações que ferem o ser-humano devem ser combatidas, independente de se tratar da cultura de alguém. Abusos como a mutilação genital feminina, para mim, não tem desculpa para existir. Quanto a filosofia do Klan (só o que eles pensam) e ao funk carioca, ambos tem o direito de se manifestar e ambos podem ser julgados por qualquer pessoa. Ou seja, o funkeiro pode dizer o que quiser, você também.

Qual a sua opinião? A cultura deve permanecer intocada? Terceiros tem o direito de se intrometer na cultura alheia? Devemos respeitar tais ações por serem de cunho cultural? Deixe a sua opinião nos comentário!

2 comentários:

  1. As culturas vão se modificando com o tempo conforme a confluência de informações. Coisas que agridem as pessoas, como a mutilação genital e a circuncisão devem ser deixadas de lado e acho que em certos casos cabe a intervenção sim. Mas você não deixou clara a sua opinião sobre o uso das burcas na França, acho que se as moças não andarem nuas elas podem andar como quiserem, não deveriam ser multadas por QUEREREM andar de burca, mas eu sou contra elas serem obrigadas a isso também. Então, qual a sua visão sobre isso?

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    1. Primeiro, elas não são multadas por QUEREREM andar de burca, eu posso querer matar uma pessoa e não posso ser preso por isso. Elas são multada por USAR a burca.

      É uma medida extrema que a França tomou, pode até ser com boas intenções, visto que o objetivo é diminuir a opressão que essas mulheres sofrem.

      Eu apoio a decisão francesa porque eu acho que é um passo racional a ser dado, que independente do direito de professar fé, é importante que essas mulheres entendam que essa fé é prejudicial para elas e que nada de ruim vai acontecer se elas não se cobrirem inteiras.

      Então eu entendo que é uma medida extrema e passa por cima de certos direitos e de certas liberdades, mas eu entendo e apoio a decisão.

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